Há muitos outros factos que me parecem explicáveis com base nesta teoria. Como é estranho que uma ave, sob a forma de um pica-pau, tivesse sido criada para predar insectos no solo; que os gansos-de-magalhães, que nunca ou raramente nadam, tivessem sido criados com pés membranosos; que um tordo tivesse sido criado para mergulhar e alimentar-se de insectos subaquáticos; e que um petrel tivesse sido criado com hábitos e estrutura adaptados à vida de uma torda-mergulheira ou de um mergulhão! E de igual modo numa interminável sucessão de casos. Mas na perspectiva de que cada espécie procura constantemente crescer numericamente, com a selecção natural sempre pronta a adaptar os descendentes lentamente variáveis de cada espécie a qualquer espaço natural desocupado ou imperfeitamente ocupado, estes factos deixam de ser estranhos ou poderiam talvez até ter sido antecipados.
Como a selecção natural age através da competição, adapta os habitantes de cada região apenas relativamente ao grau de perfeição daqueles a quem está associado, não temos de nos surpreender perante a derrota e subjugação dos habitantes de qualquer região, apesar de na perspectiva comum supostamente terem sido criadas e adaptadas especialmente para aquela região, pelas produções naturalizadas vindas de outra região. Tão-pouco nos deveríamos maravilhar se todos os apetrechos na natureza não são, tanto quanto sabemos, absolutamente perfeitos; e se alguns deles são abomináveis segundo os nossos padrões de adequação. Não temos de nos maravilhar perante a morte da abelha causada pelo próprio ferrão do animal; perante a produção de zângãos em tão vasto