O AntiCristo - Cap. 41: Capítulo 41 Pág. 64 / 117

XL

— O destino do Evangelho foi decidido no momento de sua morte — foi pendurado na “cruz”... Somente a morte, essa inesperada e vergonhosa morte; somente a cruz, a qual geralmente era reservada apenas à canalha — somente este assombroso paradoxo colocou os discípulos face a face com o verdadeiro enigma: “Quem era este? O que era este?” — O sentimento de desalento, de profunda afronta e injúria; a suspeita de que tal morte poderia constituir uma refutação de sua causa; a terrível questão “Por que aconteceu assim?” — esse estado mental é facilmente compreensível. Aqui tudo precisa ser considerado como necessário; tudo precisa ter um significado, uma razão, uma elevadíssima razão; o amor de um discípulo exclui todo o acaso. Apenas então da fenda da dúvida bocejou: “Quem o matou? Quem era seu inimigo natural?” — essa pergunta reluziu como um relâmpago. Resposta: o judaísmo dominante, a classe dirigente. A partir desse momento revoltaram-se contra a ordem estabelecida, começaram a compreender Jesus como um insurreto contra a ordem estabelecida. Até então este elemento militante, negador estava ausente em sua imagem; ainda mais, isso representava seu próprio oposto. Decerto a pequena comunidade não havia compreendido o que era precisamente o mais importante: o exemplo oferecido pela sua morte, a liberdade, a superioridade sobre todo o ressentimento— uma plena indicação de quão pouco foi compreendido! Tudo que Jesus poderia desejar através de sua morte, em si mesma, era oferecer publicamente a maior prova possível, um exemplo de seus ensinamentos.





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