Eu já denominei a “fé” uma habilidade especialmente cristã — sempre se fala de “fé” mas se age de acordo com os instintos... No mundo de ideias do cristão não há qualquer coisa que sequer toque a realidade: ao contrário, reconhece-se um ódio instintivo contra a realidade como força motivadora, como único poder de motivação no fundo do cristianismo. Que se segue disso? Que mesmo aqui,
in psychologicis, há um erro radical, isto é, determinante da essência, ou seja, da substância. Retire-se uma ideia e coloque-se uma realidade genuína em seu lugar — e todo o cristianismo reduz-se a um nada! — Visto calmamente, este fenômeno é dos mais estranhos, uma religião não apenas dependente de erros, mas inventiva e engenhosa apenas em criar erros nocivos, venenosos à vida e ao coração — constitui um verdadeiro espetáculo para os Deuses — para aquelas divindades que também são filósofas, as quais encontrei, por exemplo, nos célebres diálogos de Naxos. No momento em que a repugnância as deixar (— e também a nós!) ficarão agradecidas pelo espetáculo proporcionado pelos cristãos: talvez por causa desta curiosa exibição somente o miserável e minúsculo planeta chamado Terra mereça olhar divino, uma demonstração de interesse divino... Portanto, não subestimemos os cristãos: o cristão, falso até a inocência, está muito acima do macaco — uma teoria das origens bastante conhecida (teoria de Charles Darwin sobre as origens do homem), quando aplicada aos cristãos, torna-se simplesmente uma delicadeza...