Mas os discípulos estavam muito longe de perdoar sua morte — apesar de que fazê-lo seria consoante ao evangelho no mais alto grau; e também não estavam preparados para se oferecerem, com doce e suave tranquilidade de coração, a uma morte similar... Muito pelo contrário, foi precisamente o menos evangélico dos sentimentos, a vingança, que os possuiu. Parecia-lhes impossível que a causa devesse perecer com sua morte: “recompensa” e “julgamento” tornaram-se necessários (— e o que poderia ser menos evangélico que “recompensa”, “punição” e “julgamento”!). — Uma vez mais a crença popular na vinda de um messias apareceu em primeiro plano; a atenção foi direcionada a um momento histórico: o “reino de Deus” virá para julgar seus inimigos... Mas nisso tudo há um mal-entendido gigantesco: conceber o “reino de Deus” como ato final, como uma simples promessa! O Evangelho havia sido, de fato, a própria encarnação, o cumprimento, a realização desse “reino de Deus”. Foi apenas então que todo o desprezo e acridez contra fariseus e teólogos começaram a aparecer no tipo do Mestre, que com isso foi transformado, ele próprio, em fariseu e teólogo! Por outro lado, a selvagem veneração dessas almas completamente desequilibradas não podia mais suportar a doutrina do Evangelho, ensinada por Jesus, sobre os direitos iguais entre todos os homens à filiação divina: sua vingança consistiu em elevar Jesus de modo extravagante, destarte separando-o deles: exatamente como, em tempos anteriores, os judeus, para vingarem-se de seus inimigos, se separaram de seu Deus e o elevaram às alturas. Este Deus único e este filho único de Deus: ambos foram produtos do ressentimento...