- Olha, Katherine! Olha aquelas flores. Aquele maço perto do fundo. Vês que são de cores diferentes?
Ela já virara para regressar, mas veio espiar, inquieta. Chegou até a inclinar-se sobre o rochedo para ver onde ele apontava. Winston estava parado, um pouco para trás, e segurou-a pela cintura para firmá-la. Naquele momento, ocorreu-lhe que estavam completamente sós. Não havia por ali nenhuma criatura humana, não se movia uma folha, não havia um pássaro acordado. Num lugar daqueles, era muito pequeno o perigo de haver um microfone escondido, e se microfone houvesse, só poderia captar sons. Era a hora mais quente, mais sonolenta da tarde. O sol fustigava-os, e a testa dele estava banhada em suor. Uma ideia veio-lhe...
-Por que não lhe deste um bom empurrão? - indagou Júlia. - Eu daria.
- Sim, querida, já sei. Eu também, se fosse a pessoa que sou hoje. Ou talvez eu... não sei não.
- Lamentas não tê-la empurrado?
- Lamento. De certo modo, foi uma pena.
Estavam sentados, um ao lado do outro, sobre o soalho empoeirado. Puxou-a para mais perto. Júlia descansou a cabeça no ombro dele, e o aroma agradável dos seus cabelos sobrepujou o cheiro dos pombos. Era muito jovem, pensou Winston, ainda esperava algo da vida, não compreendia não ser solução empurrar uma pessoa inconveniente, rochedo abaixo.
- Na verdade, não faria a menor diferença.
- Então por que lamentas não a teres empurrado?
- Por que prefiro uma positiva a uma negativa. Neste jogo, não podemos ganhar. Alguns fracassos são melhores que outros, e é tudo.
Sentiu-a dar de ombros, num movimento de desaprovação. Sempre o contradizia quando ele saía com essas. Não aceitava, como lei da natureza, a derrota do indivíduo.