Cem passos adiante, ela voltou a parar e, através do véu, que do chapéu de homem lhe descia obliquamente sobre os quadris, distinguia-se-lhe o rosto numa transparência azulada, como se estivesse nadando debaixo de ondas azuis.
- Mas aonde vamos nós?
Ele não respondeu. Ela respirava de um modo reprimido. Rodolphe olhava em redor e mordia o bigode.
Chegaram a um lugar mais descoberto, onde tinham abatido algumas árvores. Sentaram-se sobre um tronco derrubado e Rodolphe começou a falar-lhe do seu amor.
Não principiou por a assustar com galanteios. Mostrou-se calmo, sério, melancólico.
Emma escutava-o de cabeça baixa, enquanto, com a ponta do pé, ia remexendo nas maravalhas espalhadas pelo chão.
Mas, quando ele lhe disse
- Não são agora comuns os nossos destinos? Ela respondeu
- Isso não! Sabe bem que é impossível.
E levantou-se para se retirar. Ele segurou-a pelo pulso. Emma deteve-se.
Depois, tendo-o fitado durante alguns minutos com um olhar amoroso e húmido, disse rapidamente
- Olhe! Não falemos mais nesse assunto... Onde estão os cavalos?
Vamo-nos embora.
Rodolphe teve um gesto de cólera e de enfado. Ela repetiu - Onde estão os cavalos? Onde estão os cavalos?
Então, sorrindo com um sorriso estranho, olhar fixo e dentes cerrados, ele avançou de braços abertos. Ela recuou a tremer. Balbuciava
- O senhor mete-me medo! Está-me fazendo mal! Vamo-nos embora.
- Já que é necessario... - prosseguiu ele, mudando de expressão. E imediatamente voltou a mostrar-se respeitador, delicado e timido.
Ela deu-lhe o braço. Regressaram. Rodolphe ia-lhe dizendo
- O que foi que se passou consigo? Porquê? Não percebi! Está sem dúvida equivocada a meu respeito. O seu lugar na minha alma é o de uma madona sobre um pedestal, num lugar elevado, forte e imaculada.