Madame Bovary - Cap. 17: IX Pág. 182 / 382

o seu canivete, uma das rédeas que rebentara.

Voltaram a Yonville pelo mesmo caminho. Viram ainda na lama os sinais das patas dos cavalos, lado a lado, e os mesmos arbustos, os mesmos calhaus no meio da erva. Nada mudara em redor de ambos; e para ela, entretanto, sobrevivera qualquer coisa mais importante do que se as montanhas se houvessem deslocado. Rodolphe, de momento a momento, inclinava-se e pegava-lhe na mão para a beijar.

Ela estava encantadora a cavalo! Direita, cintura delgada, joelho dobrado sobre a crina do animal e um pouco corada pelo ar livre, na vermelhidão crepuscular.

À entrada de Yonville fez caracol ar o cavalo sobre a calçada. Assomavam às janelas para a ver.

O marido, ao jantar, achou-lhe bom parecer; mas ela fez que não ouviu quando ele perguntou que tal fora o passeio; deixou-se ficar com o cotovelo apoiado junto do prato, entre as duas velas acesas.

- Emma! - disse ele.

- O que é?

- Sabes, passei esta tarde por casa do Sr. Alexandre; ele tem uma velha poldrinha ainda muito bonita, apenas um pouco coroada, e que poderíamos conseguir, tenho a certeza, por uma centena de escudos...

E acrescentou

- Pensando até que isso te agradaria, fiquei com ela... comprei-a...

Achas que fiz bem? Diz lá.

Emma balouçou a cabeça em sinal de assentimento; depois, passado um quarto de hora.

- Vais sair esta noite? - perguntou.

- Sim. Porquê?

- Oh! Por nada, meu amigo.

E, mal se descartou de Charles, foi-se fechar em cima, no quarto. Começou por sentir uma espécie de atordoamento; via as árvores, os caminhos, os valados, Rodolphe, e sentia ainda o amplexo dos seus braços, enquanto a folhagem tremia e os juncos sibilavam.

Olhando, porém, para o espelho, admirou-se com a aspecto do rosto.





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