Madame Bovary - Cap. 21: XIII Pág. 226 / 382

Nada de fraquezas! Voltarei depois; e talvez que, mais tarde, possamos conversar juntos, friamente, sobre os nossos antigos amores.

Adeus!

E havia um último adeus, separado em duas palavras: A Deus!, o que lhe pareceu de muito bom efeito.

«Agora como é que eu vou assinar?», pensou ele. «Seu muito dedicado?.. Não. Seu amigo?.. Sim, é isso.»

Seu amigo.

Releu a carta. Pareceu-lhe boa.

«Pobre mulher!», pensou, com enternecimento. «Vai acreditar que sou mais insensível do que uma rocha; faziam falta algumas lágrimas em cima disto; mas não sou capaz de chorar; não tenho culpa.» Então, pondo água num copo, Rodolphe molhou um dedo e deixou cair do alto uma grande gota que fez uma mancha esbatida sobre a tinta; depois, querendo lacrar a carta, encontrou o sinete Amor nel cor.

«Isto é que não vem nada a propósito... Ora, não tem importância!»

No fim de tudo fumou três cachimbadas e foi-se deitar.

No dia seguinte, quando se levantou (cerca das duas horas, porque se deitara tarde), mandou apanhar um cesto de damascos. Colocou a carta no fundo, debaixo de folhas de parreira, e deu imediatamenta ordem a Girard, o moço do arado, que levasse aquilo delicadamente a casa da Sr. Bovary. Costumava servir-se daquele meio para se corresponder com ela, enviando-lhe, conforme a época do ano, fruta ou caça,

- Se ela te pedir notícias minhas - disse-lhe ele -, respondes que saí para uma viagem. Tens de entregar o cesto directamente nas mãos dela. Vai, anda, e tem cuidado!

Girard envergou a sua blusa nova, atou o lenço por cima dos damascos e, caminhando a passos largos e pesados nas suas enormes galochas ferradas, tomou tranquilamente o caminho de Yonville.

A Sr. Bovary, quando o rapaz lá chegou, estava com Félicité, arrumando, em cima da mesa da cozinha, um embrulho de roupa.





Os capítulos deste livro