- E as pretas? - indagou o escriturário.
- Isso é gosto de artista - respondeu Homais. - Rapaz!, dois cafés!
- Vamo-nos embora? - disse por fim Léon, impacientando-se.
- Yes.
Mas, antes de se ir embora, quis falar com o dono do estabelecimento e dirigir-lhe alguns cumprimentos.
Então Léon, para se apanhar sozinho, disse que tinha umas coisas a fazer.
- Ah!, eu acompanho-o! - disse Homais.
E, enquanto percorria com ele as ruas, ia falando da mulher, dos filhos, do futuro deles e da sua farmácia, descrevia-lhe a decadência em que esta estivera noutro tempo e o grau de perfeição a que ele a elevara.
Chegando defronte do Hotel de Bolonha, Léon separou-se bruscamente dele, trepou a escada e encontrou a amante em grande desassossego.
Emma zangou-se quando ouviu o nome do farmacêutico. No entanto, Léon tinha suficientes boas razões; não era culpa sua, não conhecia ela o Sr. Homais? Imaginaria ela que a companhia do outro lhe agradava mais? Ela, porém, voltava-lhe as costas; ele segurou-a e, caindo de joelhos, envolveu-lhe a cintura com os braços, numa pose langorosa, toda cheia de concupiscência e de súplica.
Emma estava de pé; os seus grandes olhos inflamados olhavam-no com uma expressão séria e quase terrível. Depois, as lágrimas vieram turvá-los, baixaram-se-lhe as pálpebras, deixou cair as mãos e Léon ia beijá-la quando apareceu um criado, avisando o senhor de que alguém o chamava na recepção.
- Voltas? - disse ela.
- Volto.
- Mas quando?
- É só um momento.
- Foi um truque - disse o farmacêutico quando avistou Léon. - Quis interromper essa visita que me pareceu contrariá-lo.