Emma esperou Léon três quartos de hora. Por fim correu ao cartório e, perdida em todas as espécies de conjecturas, acusando-o de indiferença e acusando-se a si mesma de fraqueza, passou toda a tarde com a testa colada à vidraça.
Às duas horas estavam ainda sentados à mesa, um defronte do outro.
A grande sala ia-se esvaziando; o cano do fogão, com a forma duma palmeira, espalhava no tecto a sua copa dourada; e, perto deles, atrás do envidraçado, em pleno sol, gorgolejava um pequeno repuxo num tanque de mármore, onde, entre espargos e agriões, se estendiam três lagostas entorpecidas junto de uma pilha de codornizes amarradas e deitadas de lado.
Homais todo se deleitava. Apesar de se embriagar ainda mais com o luxo do que com a pinga, o vinho de Pomard, entretanto, excitava-lhe um pouco as faculdades e, quando apareceu a omeleta de rum, fez uma exposição de teorias imorais acerca das mulheres. O que acima de tudo o seduzia era o chiquismo. Adorava uma toilette elegante numa casa bem mobilada e, quanto às qualidades físicas, não detestava um bom pedaço.
Léon olhava desesperado para o relógio. O boticário bebia, comia, falava.
- O senhor deve passar uma vida de privações aqui em Ruão - disparou Homais inesperadamente. - Ainda assim, os seus amores não residem muito longe.
E, como o outro corava, continuou:
- Ora seja franco! É capaz de negar que em Yonville... ? O rapaz balbuciou qualquer coisa.
- Em casa da Sr. Bovary, fazia a corte...?
-A quem?
-À criada!
Homais não gracejava; mas, como a vaidade lhe suplantava a prudência, Léon, mal-grado seu, não se conteve sem protestar. Além disso, só gostava de morenas.
- Nisso tem razão - disse o farmacêutico -, são muito mais ardorosas.
E, inclinando-se para o ouvido do amigo, indicou-lhe os sintomas pelos quais se reconhecia que uma mulher era ardorosa.