Madame Bovary - Cap. 30: VII Pág. 337 / 382

Depois, como Emma lhe não respondesse, a boa mulher afastou-se, pegou na roca e continuou a fiar o linho.

- Oh! Pare com isso! - murmurou Emma, julgando estar a ouvir o torno de Binet.

«O que será que a inquieta?», perguntou a ama a si mesma. «Porque terá ela cá vindo?»

Emma correu para lá empurrada por uma espécie de pavor, que a expulsava de casa.

Deitada de costas, imóvel e de olhos fixos, discernia muito vagamente os objectos, embora concentrasse neles toda a atenção, numa persistência idiota. Contemplava as esfoladelas da parede, dois tições ardendo topo a topo e uma grande aranha andando bem por cima da cabeça dela, na fenda duma trave. Por fim reuniu as ideias. E recordava... Um dia com Léon... Oh! como ia longe esse tempo... O sol brilhava sobre o riacho e as clematites embalsamavam o ar... Então, levada pelas recordações como no turbilhão duma torrente, depressa chegou à lembrança da véspera.

- Que horas são? - perguntou ela.

A Tia Rolet saiu, ergueu dois dedos da mão direita para o lado onde

o céu estava mais claro e voltou a entrar vagarosamente dizendo:

- Daqui a pouco devem ser três horas.

- Ah! Obrigada! Obrigada!

Porque ele não tardaria. Tinha a certeza disso! Teria encontrado dinheiro. Mas iria naturalmente lá a casa, sem imaginar que ela aqui estivesse; e mandou a ama chamá-lo.

- Vá depressa!

- Mas, minha rica senhora, lá vou, lá vou!

Agora admirava-se de não ter pensado nele em primeiro lugar; ontem dera a sua palavra, não faltaria; e imaginava-se já em casa do Lheureux, estendendo sobre a secretária as três notas de banco. Depois teria de inventar uma história para explicar tudo ao Bovary. E qual?

Entretanto, a ama estava-se demorando bastante para voltar. Mas como não havia relógio na choupana, Emma receava que estivesse exagerando a duração do tempo.





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