Madame Bovary - Cap. 8: VIII Pág. 56 / 382

As patas vermelhas das lagostas excediam a borda das travessas; havia grandes peças de fruta acamadas em musgo dentro de cestinhas arrendados; as codornizes mantinham ainda as penas; subiam vapores; e, de meia de seda, calção curto, gravata branca e folhas, importante como um juiz, o mordamo, passando por entre os ombros dos convivas os pratos já trinchados, com um toque de colher fazia saltar para cada um o bocado escolhido. Sobre o grande fogão de porcelana com varão de cobre, uma estátua de mulher enroupada até ao queixo fixava, imóvel, a sala cheia de gente.

A Sr. Bovary reparou que algumas damas não tinham colocado as lu-as no copo.

Entretanto, à cabeceira da mesa, sozinho entre todas aquelas mulheres, curvado sobre o prato cheio, com o guardanapo atado atrás do pescoço :omo uma criança, um velho comia, deixando cair da boca pingos de moo. Tinha os olhos inflamados e usava um pequeno rabicho atado com zma fIta preta. Era o sogro do marquês, o velho duque de Laverdiere, o anduo favorito do conde de Artois, na época das partidas de caça em Vauzreuil, nas propriedades do marquês de Conflans, e que fora, segundo se dizia, amante da rainha Maria Antonieta entre os senhores de Coiguy e de...auzun. Tivera uma vida ruidosa de desregramento, cheia de duelos, de costas, de mulheres raptadas, estourara com a fortuna e estarrecera toda a família. Um criado, postado atrás da cadeira dele, dizia-lhe em voz alta, ouvido, o nome dos pratos que ele apontava com o dedo, balbuciando; e continuamente os olhos de Emma se voltavam, mesmo involunta!a.ffiente, para aquele velho de lábios pendentes, como para qualquer coisa extraordinária e augusta. Vivera na corte e deitara-se na cama das cozinhas!

Serviram champanhe gelado. Emma sentiu um arrepio por todo o corpo com aquele frio na boca.





Os capítulos deste livro