- Descanse, Fernando - exclamou a nobre senhora entre soluços - , descanse, porque, apesar de serem insignificantíssimas as faltas que supôs cometer para comigo, eu lhe perdoo tudo...
- Obrigado, senhora, obrigado - respondeu o rapaz, enternecido. Depois, voltando-se para Deolinda, tomou-lhe as mãos, imprimiu nelas dois ardentes beijos, e, erguendo para ela os olhos marejados de lágrimas, continuou:
- Deolinda, alma nobre e generosa, a ti sobretudo é que eu tenho de pedir perdão dessa grande falta que cometi... Estou certíssimo que me perdoarás, porque tu és uma alma santa; a ti, principalmente, é que eu devo o sossego destes últimos momentos e não tenho palavras com que te possa exprimir o meu reconhecimento. Perdoa-me, Deolinda, e adeus! Oxalá que na Terra encontres um valioso prémio das tuas virtudes, porque no Céu já te está reservado o lugar dos bons.
Passados momentos, entrou Rosa no quarto, e, ao ver aqueles rostos aflitos e aqueles corações entregues à mais inconsolável dor, sentiu também as lágrimas caírem-lhe uma a uma pelas faces, e, como atormentada por um triste pressentimento, correu para junto do leito, e com a voz ansiada chamou Fernando.
Este, como extenuado pelo diálogo que tinha sustentado com os entes que lhe eram tão caros, permanecia com os olhos cerrados e num estado de lânguida prostração: mas, ao ouvir a voz da sua esposa, entreabriu as pálpebras, e, com um meigo sorriso nos lábios, exclamou:
- Ainda estou vivo, minha Rosa... Julgas que eu te deixaria sem te dar o último beijo?...
A pedido do moribundo, fora chamado um sacerdote para lhe ministrar os últimos sacramentos.
Confessara-se e comungara com o recolhimento