A Rosa do Adro - Cap. 6: CAPÍTULO 6 Pág. 31 / 202

CAPÍTULO 6

No dia seguinte, pouco depois do meio-dia, parava em frente da janela de Rosa um dos rapazes que mais assiduamente faziam a corte à travessa rapariga, e a quem esta igualmente parecia ligar mais consideração que a nenhum outro.

Tinha ele cerca de vinte e dois anos, era alto, bem proporcionado de formas, feições simpáticas, e possuía além disso umas maneiras engraçadas e agradáveis.

Chamava-se António, e era jovem de um padre que habitava uma herdade não longe da igreja, e ao serviço do qual estava desde criança.

Quanto ao seu carácter e costumes, eram eles os melhores possíveis. Alegre, franco, serviçal, de um comportamento irrepreensível e inimigo de rixas, soubera por todos estes dotes conquistar a estima de todo o povo da freguesia.

No momento em que estacara em frente da janela de Rosa, dir-se-ia que um pesar oculto, um sofrimento qualquer, lhe torturava a alma, a ajuizar pela palidez do rosto e pela tristeza que lhe ensombrava as feições.

A bela aldeã, com a face reclinada sobre a mão, tão abstraída estava que não dera pela chegada do rapaz, que, com os olhos fitos nela, parecia esperar com angústia o despertar daquele embevecimento, pouco vulgar na gentil rapariga.

Passados momentos, Rosa levantou maquinalmente a cabeça, e, dando de rosto com António, não pôde reprimir uma pequena exclamação de espanto, contrafazendo ao mesmo tempo o rosto com um leve sorriso.

- Estavas aí, António? - perguntou ela naturalmente.

- Cheguei mesmo agora, Rosa - respondeu o jovem com ar amargurado.

- Já me 'não lembra que te visse. Por onde tens andado?

- Por aí...

- Talvez entretido com novos amores, não é verdade?

- Os meus amores... és tu só, Rosa - respondeu António, baixando os olhos.





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