A Rosa do Adro - Cap. 6: CAPÍTULO 6 Pág. 32 / 202

- Pois não o parece; dantes ainda vinhas por aqui vezes a miúdo; mas, de um certo tempo a esta parte, não há quem te veja...

- Isto pouco te deve custar; ia até jurar, se tal fosse preciso, que desejarias muito não me veres mais junto de ti.

- Tu enlouqueceste, António!? Por acaso tenho eu deixado alguma vez de te demonstrar que sou tua amiga?!

- Sim, minha amiga... mas, infelizmente, há agora outro a quem melhor dispensas essa amizade.

- Estás enganado; com tão bom modo falo para ti como para outro qualquer...

- Não mintas, Rosa!

- Então tu...

- Olha, Rosa - atalhou o rapaz, um esforço - , deixemo-nos de mais dissimulações: tu a quem queres mais do que a ninguém é ao filho do Capitão. Ora aí está a verdade.

- E o que há nisso de extraordinário?

- É que lhe tens já uma amizade cega - continuou António, sem atender àquela resposta.

- Mas o que há nisso de extraordinário? pergunto outra vez! - exclamou a jovem com mau modo.

António, a estas palavras, sentiu-se estremecer de despeito; cravou na rapariga um olhar que não se poderia conhecer se era de ódio, se de desespero, olhar que ela suportou com o maior sangue-frio, e exclamou um pouco fora de si:

- O que há nisso de extraordinário, perguntas tu? É que só agora conheci o quanto me tens sido falsa...

- Falsa, eu? - respondeu a rapariga, soltando uma fina gargalhada. Pois dar-se-á o caso que eu algum dia te declarasse essa amizade que tu Imaginaste. para assim me falares?

- Nada me disseste a tal respeito, é verdade, mas a maneira como sempre me trataste, a preferência que me davas, é o que me fez supor...

- Pois foi uma má suposição, meu António. Tive-te sempre em muita conta, é verdade; preferia-te sempre a outro qualquer, não o nego; mas tudo isso não passava de uma simples afeição, filha dos nossos primeiros anos.





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