A Rosa do Adro - Cap. 7: CAPÍTULO 7 Pág. 51 / 202

Efetivamente viu ao longe, caminhando por um atalho, um homem cujas feições não pôde a princípio distinguir, pela distância que o separava dele, mas, afinal, quando se aproximou mais, reconheceu António, o jovem do padre.

Era efetivamente o desventurado rapaz, que, com a enxada ao ombro e a cabeça pendida para o peito, caminhava vagarosamente, parecendo estranho a tudo que o cercava.

Passou a alguma distância do local em que Fernando estava, e tão abstraído ia, que nem sequer parecera dar pela presença do rapaz, que, meio desconfiado, seguia com curiosidade a direção que ele levava. Apenas, ao sentir o latir dos cães, António relanceara sobre eles um olhar tão rápido, que nem o próprio Fernando o notou.

Afinal, Fernando, logo que o viu desaparecer por entre o labirinto de árvores, tomando um caminho oposto àquele em que se achava, voltou para o seu lugar, exclamando de si para consigo:

- Pobre rapaz!... à fé de quem sou, que tenho dó dele!... E há quem diga que o coração do homem não seja capaz de uma grande paixão, incurável até!... Engano! E a prova é esse pobre diabo, para quem parece terem morrido todas as alegrias desta vida, pelo simples facto de Rosa o ter repudiado. Pobre rapaz!... Ninguém o vê senão triste e acabrunhado, fugindo de toda a gente e afastando-se sempre de todos os passatempos que outrora faziam a sua alegria. Mas afinal o que lhe hei de fazer? Ceder-lhe o meu lugar e abandonar-lhe essa rapariga, por quem ando louco de amores? Isso nunca! Que sofra com paciência, que arraste como puder a cruz que tanto lhe pesa, ou então... que se deixe de ser tolo: coração ao largo e está tudo acabado. Demais, a ele não lhe faltam aí raparigas que lhe possam matar saudades, enquanto comigo se dá exatamente o contrário.





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