A Rosa do Adro - Cap. 9: CAPÍTULO 9 Pág. 81 / 202

- Ó tia Maria, gostava ainda de a ver casada com um homem que a fizesse andar no campo com uma enxada, como nós andamos; queria ver aquelas mãozinhas de cera calejadas e crestadas como trazemos as nossas.

- Ah! Livre-a Deus de semelhante coisa: o enguiço da rapariga dava à costa dentro em pouco; era até capaz de se enforcar no galho de uma árvore, se a tal a obrigassem.

- Estais enganadas - acrescentou Brizida. - Antes disso havia de engrodar o homem com as suas retóricas, a ponto de ele lhe não mandar fazer coisa alguma; aquilo tem uma lamúria e fala que nem o padre-cura nas práticas dos domingos.

- Deixá-la lá... Tolo será quem pretender uma semelhante delambida.

- A gente a falar no diabo e ele à porta, diz o ditado: ela aí vem! - exclamou repentinamente Josefa.

Todos os rostos se voltaram a esta exclamação, e a conversa interrompeu-se como por encanto.

Efetivamente, a Rosa do Adro encaminhava-se para o sítio onde estava o grupo das maldizentes, e estas, à sua aproximação, compuseram nos rostos uns sorrisos hipócritas e continuaram a falar, mas em assunto completamente diverso daquele que há pouco tratavam.

Rosa, passados minutos, chegava próximo das mulheres, e com o riso nos lábios exclamou:

- Boas-tardes, tia Brízida e companhia.

- Venha na graça do Senhor - responderam as mulheres. - A estas horas por aqui, é milagre - acrescentou uma delas.

- Vou a casa do regedor levar à filha esta jaleca e esta saia que lhe fiz.

- Ah, sim! - exclamou Antónia. - Então é para estrear já no domingo no arraial do mártire São Sebastião.

- Creio que sim - respondeu Rosa.

- Aquela também, por mais que se asseie, não é capaz de fazer-se bonita como o quer ser - disse Joaquina. - Se não fossem os bens que o pai lhe há de deixar, parece-me que toda a vida ficaria solteira.





Os capítulos deste livro