O Ingénuo - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 52 / 91

- Como o descobriste?

- Ainda não sei. Mas estes versos não me tocam nem o ouvido nem o coração.

- Oh! os versos não importam - observou Gordon.

- Para que então fazê-los? - retrucou o Ingénuo.

Depois de ter lido atentamente a peça, sem outro fim que o de sentir prazer, fitava o amigo com os olhos secos e espantados, sem saber o que dissesse. Mas, instado a dizer o que experimentara, assim respondeu:

- Do começo, nada entendo; o meio deixou-me revoltado; a última cena comoveu-me, embora me parecesse pouco verossímil; não me interessei por ninguém e não retive nem vinte versos, eu que os retenho todos, quando me agradam.

E no entanto, esta peça é considerada a melhor que nós possuímos.

- Se assim é - replicou ele, - talvez seja como muitas pessoas que não merecem o seu lugar. Afinal de contas, é uma questão de gosto; com certeza o meu ainda não está formado; pode ser que me engane; mas bem sabes que costumo dizer o que penso, ou antes, o que sinto. Nos juízos dos homens, há muito de ilusão, de moda, ou de capricho, creio eu. Falei segundo a natureza: pode ser que em mim a natureza se mostre muito imperfeita; mas também pode ser que ela seja às vezes pouco consultada pela maioria dos homens.

Pôs-se então a recitar versos de Ifigênia e, embora não declamasse bem, emprestou-lhe tanta verdade e unção, que fez chorar o velho jansenista. Em seguida leu Cinna: não chorou, mas admirou.





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