Ela sucumbe por virtude
Pedia à amiga que a matasse; mas esta mulher, não menos indulgente que o jesuíta, falou-lhe ainda com mais clareza.
- Ai! - suspirou ela. - Os negócios não se arranjam de outra maneira nesta Corte tão amável, tão galante e afamada. Os lugares mais medíocres, e os mais consideráveis, muitas vezes não foram concedidos senão pelo preço que exigem de ti. Escuta, tu me inspiraste amizade e confiança; pois confesso-te que, se me houvesse mostrado tão difícil como tu, meu marido não teria o pequeno cargo de que vive; ele bem o sabe e, longe de se agastar com isso, vê em mim a sua benfeitora e considera-se criatura minha. Pensas que todos aqueles que estiveram à testa das províncias, ou mesmo dos exércitos, tenham devido as honrarias e a fortuna unicamente a seus serviços? Há os que o devem às senhoras suas esposas. As dignidades da guerra foram solicitadas pelo amor; e o lugar concedido ao esposo da mais bela. Tu estás em uma situação muito mais interessante: o fim é libertares teu noivo e desposá-lo; trata-se de um dever sagrado a que não podes faltar. Ninguém censurou as belas e grandes damas de quem te falo; a ti, hão de aplaudir-te e dirão que só te permitiste uma fraqueza por excesso de virtude.
- Ah! que virtude! - exclamou a bela. St. Yves. - Que labirinto de iniquidades! Que país! E como aprendo a conhecer os homens! Um padre de La Chaise e um bailio ridículo mandam meu noivo para a prisão; minha família me persegue; e só me estendem a mão, na desgraça, para desonrar-me.