O Ingénuo batizado
O prior e o abade, tendo acorrido, perguntaram ao Ingénuo o que estava fazendo ali.
- Ora essa! Espero o batismo. Faz uma hora que estou dentro d'água. E não é nada direito me deixarem aqui a gelar.
- Meu querido sobrinho - disse-lhe carinhosamente o prior, - não é assim que se fazem batizados na Baixa Bretanha; veste a tua roupa e vem connosco.
Ouvindo tais palavras, a senhorita de St. Yves disse baixinho à companheira:
- Será que ele já vai vestir-se?
O hurão, no entanto, retrucou ao prior:
- Agora o senhor não me convencerá como da outra vez; desde então tenho estudado bastante e estou certo de que não se batiza de outra maneira. O eunuco da rainha Candace foi batizado num rio: desafio o senhor a que me mostre no livro que me deu se alguma vez se batizou a não ser assim. Ou não serei batizado, ou serei batizado no rio.
Não adiantou alegar que haviam mudado os costumes. O Ingénuo era cabeçudo, pois era bretão e hurão. Voltava sempre ao eunuco da rainha Candace. E, embora a senhorita sua tia e a senhorita de St. Yves, que o tinham observado dentre os salgueiros, estivessem no direito de dizer-lhe que não lhe competia citar semelhante homem, abstiveram-se de qualquer interferência, tamanha era a sua discrição. O próprio bispo veio falar-lhe, o que já era muito; mas não adiantou: o hurão discutiu com o bispo.
- Mostre-me - lhe disse ele - no livro que o tio me deu, um único homem que não se haja batizado no rio, e eu farei tudo o que o senhor quiser.