O Ingénuo vai à Corte. Janta em caminho, com huguenotes
O Ingénuo seguiu de coche pela estrada de Saumur, porque não havia então outra comodidade. Chegado a esta cidade, espantou-se de encontrá-la quase deserta e de ver várias famílias que se mudavam. Disseram-lhe que Saumur, seis anos antes, continha mais de quinze mil almas, e que agora não contava mais de seis mil. Não deixou de falar nisso, à mesa da hospedaria. Vários protestantes ali se achavam; Uns queixavam-se amargamente, outros fremiam de cólera, outros choravam, dizendo: Nos dulcia linquimus arva, nos patriam fugimos. O Ingénuo, que não sabia latim, pediu explicação de tais palavras, que significam: Abandonamos as nossas suaves campanhas, fugimos da nossa pátria.
- E por que fogem de sua pátria, senhores?
- É porque querem que reconheçamos o Papa.
- E por que não o reconhecem? Não têm, então, madrinhas com quem desejam casar? Pois me disseram que é o Papa que dá licença para isso.
- Ah! esse Papa diz que é senhor do domínio dos reis.
- Mas qual é a profissão dos senhores?
- Somos, na maioria, tecelões e fabricantes.
- Se o Papa alega que é senhor dos tecidos e das fábricas, fazem muito bem em não reconhecê-lo; mas, quanto aos reis, isso é com eles; por que se metem os senhores em tais assuntos?