Ela liberta o noivo e um jansenista
Ao clarear do dia, corre a Paris, munida da ordem do ministro. Difícil pintar o que lhe ia no coração durante aquela viagem. Imagine-se uma alma. virtuosa e nobre, humilhada com o seu opróbrio, embriagada de paixão, lacerada pelos remorsos de haver traído o seu amado, cheia da alegria de libertar aquele a quem adora. Suas amarguras, suas lutas, seu triunfo lhe partilhavam todas as reflexões. Não era mais aquela jovem simples a quem uma educação provinciana acanhara as ideias. O amor e a desgraça a tinham formado. Tantos progressos fizera nela o sentimento como os fizera a razão no espírito do seu desventurado noivo. As moças aprendem a sentir com muito mais facilidade do que os homens a pensar. A sua aventura era mais instrutiva que quatro anos de convento.
Seu traje era de extrema singeleza. Considerava com horror os adereços com que se apresentara a seu funesto benfeitor; deixara os brincos para a companheira, sem ao menos lançar-lhes um olhar. Confusa e encantada, idolatrando o Ingénuo e odiando a si mesma; chega enfim à porta
"Desse horrível castelo, palácio da vingança,
Que frequentemente conteve o crime e a inocência."
Quando foi para descer da carruagem, faltavam-lhe as forças; tiveram de ajudá-la; ela entrou, com o coração palpitante, os olhos húmidos, a fisionomia consternada. Apresentam-na ao governador; ela quer falar-lhe, sua voz expira; mostra a sua ordem, articulando a custo algumas palavras.