Enquanto a amiga os recolhia, a St. Yves acrescentava:
- Ele que fique com os diamantes, ou os presenteie a ti; vai-te, não me faças ter ainda maior vergonha de mim mesma. A embaixatriz retirou-se, sem compreender os remorsos de que era testemunha. A bela St. Yves, opressa, doente, sufocada, foi obrigada a meter-se no leito. Mas, para não alarmar ninguém com o que sentia, e apenas sob o pretexto do cansaço, pediu licença para repousar, mas isso depois de haver tranquilizado a companhia com palavras afetuosas e dirigido ao amado olhares que lhe incendiavam o coração.
A ceia, que ela não animava, foi triste no princípio, mas dessa grave tristeza que induz a conversações atraentes e úteis, tão superiores a essa frívola alegria que todos procuram e que não passa, em geral, de um importuno rumor.
Gordon traçou em poucas palavras a história do jansenismo e do molinismo, das perseguições com que um partido afligia ao outro e da irredutibilidade de ambos. O Ingénuo fez-lhes a crítica e lamentou os homens que, não satisfeitos da discórdia que os seus interesses provocam, arranjam novos males procedentes de interesses quiméricos e ininteligíveis absurdos. Gordon narrava, o outro julgava; os convivas ouviam com emoção, esclarecendo-se de novas luzes. Falou-se da extensão de nossos infortúnios e da brevidade da vida. Observou-se que cada condição tem um vício e um perigo que lhe são peculiares, e que, desde o príncipe ao último dos mendigos, tudo parece acusar a natureza. Como se encontram tantos homens que, por tão pouco dinheiro, se tornam perseguidores, satélites, carrascos dos outros homens?