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Capítulo 12: Capítulo 12

Página 89

Entre as monjas e os árabes bem curta distância medeia: e todavia, lá no mais pequeno recinto, onde soam os gemidos de dores atrozes, onde só ri uma esperança, a da morte, há paz íntima, há o céu; aqui, na vasta cripta, onde a ebriedade de fácil triunfo, a riqueza dos despojos, o futuro de uma larga existência de glória e deleites sorriem na mente dos infiéis, está o furor insensato, está o inferno. O Evangelho e o Corão estão frente a frente no resultado das suas doutrinas. É sublime a vitória do livro do Nazareno!

Os golpes de machado redobram: os troncos afeiçoados do roble começam a estourar nas suas junturas. A última freira fora já curvar- se junto dos degraus do altar; a donzela vestida de branco vai ajoelhar aos pés de Cremilde, exclamando:

— Para mim também o martírio! Salvai-me do opróbrio!

— A tua constância, filha, na dura prova de agonia por que tens passado te purificou. Sê uma das monjas da Virgem Dolorosa e vai com tuas irmãs receber a coroa de mártir.

O ferro, porém, que descia sobre o colo da donzela foi cair com a mão de Cremilde aos pés da cruz gigante do altar. Um revés do alfange de Abdulaziz lha cerceara: as sólidas grades estavam despedaçadas.

A abadessa vacilou e, ao cair, só pôde murmurar:

— Jesus, recebe a minha alma!

Foram as suas palavras extremas: um segundo golpe lhe atalhou na garganta o derradeiro suspiro.

As freiras ergueram-se e encaminharam-se para o lugar em que jazia o cadáver destroncado da abadessa. Ajoelharam junto dela com a face voltada para a turba dos infiéis. Os seus rostos inchados, e manando sangue, eram disformes e horríveis.

— Ao menos, tu serás minha! — exclamou o amir, lançando a mão ao braço da donzela vestida de branco, a quem o terror desta cena rapidíssima tornara imóvel, como uma dessas estátuas que parecem orar sobre os sepulcros nas catedrais da Idade Média. — Filhos valentes do Sudão, conduzi-a à minha tenda. As outras, que as asas do anjo Asrael se estendam sobre os seus cadáveres. Daí a poucas horas a cripta estava em silêncio. As monjas da Virgem Dolorosa jaziam desoladas em volta da venerável Cremilde, e as suas almas puras abrigavam-se no seio imenso de Deus.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 89

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176