A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 105 / 524

anteriores, está aberta às mesmas objecções que primeiro se levantou aos ilustres pontos de vista de Sir Charles Lyell sobre «as mudanças modernas da Terra, como ilustrativas da geologia»; mas hoje raramente ouvimos falar na acção, por exemplo, das ondas costeiras, consideradas uma causa trivial e insignificante, quando aplicada à escavação de vales gigantescos ou à formação das maiores linhas de escarpas interiores. A selecção natural pode agir apenas pela preservação e acumulação de modificações hereditárias ínfimas, cada qual vantajosa para o ser preservado; e como a geologia moderna praticamente baniu tais perspectivas sobre a escavação de um grande vale por uma única onda diluvial, também a selecção natural, se é um princípio genuíno, banirá a crença na criação contínua de novos seres orgânicos, ou de qualquer modificação imensa e repentina na sua estrutura.

Sobre o Entrecruzamento dos Indivíduos. - Tenho de fazer aqui um pequeno desvio. No caso dos animais e plantas com sexos separados, é seguramente óbvio que para cada nascimento tem sempre de haver a união de dois indivíduos; mas no caso dos hermafroditas isto está longe de ser óbvio. Não obstante, inclino-me fortemente para crer que em todos os hermafroditas contribuem dois indivíduos, ocasional ou regularmente, para a reprodução do seu tipo. Posso acrescentar que esta perspectiva foi primeiro sugerida por Andrew Knight. Veremos dentro em pouco a sua importância; mas aqui tenho de tratar o assunto com extrema brevidade, embora tenha preparado os materiais para uma ampla discussão. Todos os animais vertebrados, todos os insectos e outros grupos numerosos de animais, acasalam para cada nascimento. A investigação moderna reduziu bastante o número de supostos hermafroditas, e entre os hermafroditas genuínos muitos acasalam; isto é, dois indivíduos unem-se regularmente para a reprodução, o que é tudo o que nos interessa.





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