A Origem das Espécies - Cap. 6: CAPÍTULO V
LEIS DA VARIAÇÃO Pág. 181 / 524

as obras de Deus em mera irrisão e logro; aceitaria quase com a mesma rapidez a crença dos antigos e ignorantes cosmogonistas de que os fósseis de conchas nunca foram seres vivos, mas criados em pedra para imitar os moluscos que hoje vivem no litoral.

Resumo. - A ignorância que temos das leis da variação é profunda.

Não podemos professar, sequer num caso em cada cem, apontar qualquer razão por que esta ou aquela parte difere, em maior ou menor grau, da mesma parte nas suas antecessoras. Mas sempre que temos os meios de estabelecer uma comparação, as mesmas leis parecem ter actuado na produção das diferenças menores entre variedades da mesma espécie e das maiores diferenças entre espécies do mesmo género. As condições externas de vida, como o clima e a alimentação, etc., parecem ter causado algumas modificações ligeiras. O hábito, ao produzir diferenças constitutivas, o uso, ao fortalecer, e o desuso, ao enfraquecer e diminuir órgãos, são aparentemente mais poderosos nos efeitos que produzem. As partes homólogas tendem a variar da mesma maneira, e as partes homólogas tendem a coerir. As modificações nas partes rígidas e nas externas afectam por vezes as partes macias e internas. Quando uma parte é muito desenvolvida, tende talvez a retirar nutrição das partes adjacentes; e todas as partes da estrutura que podem ser economizadas sem detrimento do indivíduo sê-lo-ão. As mudanças de estrutura numa idade precoce afectarão em geral as partes subsequentemente desenvolvidas; e há muitas outras correlações de crescimento cuja natureza somos completamente incapazes de compreender. As partes múltiplas são variáveis em número e estrutura, talvez por não terem sido objecto de uma especialização estrita para qualquer função particular, pelo que as suas modificações não foram severamente limitadas pela selecção natural.





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