A Origem das Espécies - Cap. 6: CAPÍTULO V LEIS DA VARIAÇÃO Pág. 182 / 524
Esta é provavelmente a mesma causa pela qual os seres orgânicos situados mais abaixo na escala da natureza são mais variáveis do que os seres cuja organização no seu todo é mais especializada, situando-se mais acima na escala. A inutilidade dos órgãos rudimentares fará que sejam descurados pela selecção natural, o que torna provável a sua variabilidade. Os caracteres específicos - isto é, os caracteres que diferem desde que as diversas espécies do mesmo género se afastaram de uma antecessora comum - são mais variáveis do que os caracteres genéricos, ou os que são herdados há muito tempo e não diferiram neste mesmo período. Nestas observações referimo-nos às partes ou órgãos especiais que são ainda variáveis, porque a variação recente os fez diferir; mas vimos também no Capítulo II que o mesmo princípio se aplica à totalidade do indivíduo; pois numa região onde se encontra muitas espécies de qualquer género - isto é, onde houve muita variação e diferenciação prévias, ou onde a produção de novas formas específicas se tem mantido activa - aí, em média, encontramos hoje a maioria das variedades ou espécies incipientes. Os caracteres sexuais secundários são altamente variáveis e diferem muito nas espécies do mesmo grupo. A variabilidade nas mesmas partes da organização tem sido em geral aproveitada, ao dar diferenças sexuais secundárias aos sexos da mesma espécie, e diferenças específicas às diversas espécies do mesmo género. Qualquer parte ou órgão que se tenha desenvolvido até atingir um tamanho extraordinário ou de uma maneira extraordinária, por comparação com a mesma parte ou órgão na espécie próxima, tem de ter sofrido uma quantidade extraordinária de modificação desde o aparecimento do género; e assim podemos compreender a razão