A Origem das Espécies - Cap. 7: CAPÍTULO VI
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TEORIA Pág. 197 / 524

concluir que os graus transicionais entre estruturas adaptadas para hábitos de vida muito diferentes raramente se terão desenvolvido num período inicial em grande número e sob muitas formas subordinadas. Assim, regressando à nossa ilustração imaginária do peixe voador, não parece provável que se tivessem desenvolvido peixes verdadeiramente capazes de voar, sob muitas formas subordinadas, para predar de muitas maneiras vários tipos de presa, em terra e na água, antes que os seus órgãos de voo tivessem alcançado um estágio elevado de perfeição, de maneira a conferir-lhes uma inequívoca vantagem sobre outros animais na batalha pela vida. Portanto, a probabilidade de descobrir espécies com graus transicionais de estrutura em estado fóssil será sempre menor, por terem existido em menor número, do que no caso das espécies com estruturas plenamente desenvolvidas.

Darei agora dois ou três exemplos de hábitos diversificados e modificados nos indivíduos da mesma espécie. Num caso ou noutro, seria fácil a selecção natural adaptar o animal, através de alguma modificação da sua estrutura, aos seus hábitos modificados, ou exclusivamente para um dos seus muitos hábitos diferentes. Mas é difícil, e irrelevante para nós, saber se os hábitos geralmente mudam primeiro e a estrutura depois; ou se ligeiras modificações de estrutura levam a hábitos modificados; provavelmente, ambos mudam frequentemente quase em simultâneo. Dos casos de hábitos modificados bastará meramente aludir ao dos muitos insectos britânicos que hoje se alimentam de plantas exóticas ou exclusivamente de substâncias artificiais. Poder-se-ia apresentar inumeráveis exemplos de hábitos diversificados: observei frequentemente um papa-moscas-tirano (Saurophagus sulphuratus) na





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