A Origem das Espécies - Cap. 7: CAPÍTULO VI
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TEORIA Pág. 210 / 524

Senti por vezes tanta dificuldade, embora de um tipo diferente, neste tópico, como no caso de um órgão tão perfeito e complexo como o olho.

Em primeiro lugar, somos demasiado ignorantes, no que se refere à economia total de qualquer ser orgânico, para afirmar que modificações ligeiras seriam importantes ou não. Num capítulo anterior dei exemplos de caracteres absolutamente insignificantes, tais como a lanugem na fruta ou a cor da carne, que, por determinar os ataques dos insectos ou por estar correlacionada com diferenças constitutivas, poderiam indubitavelmente sofrer a acção da selecção natural. A cauda da girafa parece um mata-moscas artificial; e parece à partida incrível que isto pudesse ter sido adaptado para o seu propósito presente através de sucessivas modificações ligeiras, sempre melhores, para um objectivo tão trivial como afastar as moscas; porém, deveríamos parar um pouco antes de ficar demasiado confiantes, mesmo neste caso, pois sabemos que a distribuição e existência de gado bovino e outros animais na América do Sul depende em absoluto do seu poder de resistir aos ataques dos insectos: pelo que os indivíduos que por quaisquer meios se pudessem defender de todos estes pequenos inimigos seriam capazes de se propagar para novas pastagens e assim ganhar uma grande vantagem. Não se trata de os quadrúpedes maiores serem efectivamente destruídos (excepto em alguns casos raros) pelas moscas, mas são incessantemente assediados e a sua força é reduzida, pelo que estão mais sujeitos à doença, ou não são tão capazes numa eventual escassez de procurar comida ou escapar aos predadores.

Órgãos que são hoje de importância menor foram provavelmente em alguns casos de grande importância para um progenitor primitivo e, depois





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