A Origem das Espécies - Cap. 7: CAPÍTULO VI
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TEORIA Pág. 220 / 524

Embora a crença de que um órgão tão perfeito como o olho se possa ter formado por selecção natural seja mais do que suficiente para deixar qualquer um atordoado, porém, no caso de um qualquer órgão, se conhecermos de uma longa série de gradações de complexidade, cada uma boa para o seu possuidor, então, sob condições de vida variáveis, não há impossibilidade lógica na aquisição de qualquer grau concebível de perfeição através da selecção natural. Nos casos em que não conhecemos quaisquer estados intermédios ou transicionais, deveríamos ser muito prudentes ao concluir que nenhum podia ter existido, pois as homologias de muitos órgãos e dos seus estados intermédios mostram que maravilhosas metamorfoses funcionais são pelo menos possíveis. Por exemplo, uma bexiga-natatória foi permanentemente convertida num pulmão aeróbio. O facto de o mesmo órgão ter realizado simultaneamente funções muito diferentes, especializando-se depois numa só função; e de dois órgãos muito distintos terem realizado em simultâneo a mesma função, tendo-se um aperfeiçoado enquanto ajudado pelo outro, tem de ter facilitado frequentemente as transições.

Somos demasiado ignorantes, em quase todos os casos, para podermos afirmar que qualquer parte ou órgão é de tal maneira pouco importante para o bem-estar de uma espécie que as modificações na sua estrutura não poderiam ter sido lentamente acumuladas por meio da selecção natural. Mas podemos acreditar seguramente que muitas modificações, inteiramente devidas às leis do crescimento e que a princípio não são de maneira alguma vantajosas para uma espécie, foram subsequentemente aproveitadas pelos descendentes ulteriormente modificados desta espécie. Podemos também acreditar que uma parte antes muito importante





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