A Origem das Espécies - Cap. 7: CAPÍTULO VI
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TEORIA Pág. 221 / 524

foi frequentemente conservada (como a cauda de um animal aquático pelos seus descendentes terrestres), embora se tenha tornado tão pouco importante que não podia, no seu estado presente, ter sido adquirida por selecção natural - um poder que age unicamente pela preservação de variações vantajosas na luta pela vida.

A selecção natural nada produzirá numa espécie para o exclusivo bem ou prejuízo de outra; embora possa muito bem produzir partes, órgãos e excreções de elevada utilidade ou mesmo indispensáveis, ou altamente prejudiciais para outra espécie, mas em todos os casos será ao mesmo tempo útil para o seu dono. A selecção natural em cada região bem provida tem de agir principalmente através da competição dos habitantes entre si e, consequentemente, produzirá perfeição ou força na batalha pela vida, apenas segundo o padrão daquela região. Portanto, os habitantes de uma região, em geral a mais pequena, irão frequentemente submeter-se, como vemos que fazem, aos habitantes de outra região, geralmente mais vasta. Pois na região mais vasta terão existido mais indivíduos e mais formas diversificadas e a competição terá sido mais severa, e assim o padrão de perfeição ter-se-á elevado. A selecção natural não produzirá necessariamente a perfeição absoluta; tão-pouco, tanto quanto as nossas faculdades limitadas no-lo permitem compreender, pode a perfeição absoluta encontrar-se em todo o lado.

Segundo a teoria da selecção natural, podemos claramente compreender o significado integral daquele velho cânone de história natural, «Natura non facit saltum». Este cânone, se olharmos apenas para os habitantes do mundo hoje em dia, não é estritamente correcto, mas se incluirmos todos os que existiram em épocas passadas, tem de ser estritamente verdadeiro, segundo a minha teoria.





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