A Origem das Espécies - Cap. 8: CAPÍTULO VII
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Os instintos domésticos, como lhes podemos chamar, são certamente muito menos fixos ou invariáveis do que os instintos naturais; mas sofreram a acção de uma selecção muitíssimo menos rigorosa e foram transmitidos durante um período incomparavelmente menor, sob condições de vida menos fixas.

Vê-se bem quão vigorosamente estes instintos, hábitos e temperamentos domésticos são herdados e quão curiosamente se misturam quando se cruzam diferentes linhagens de cães. Sabe-se assim que um cruzamento com um buldogue afectou durante muitas gerações a coragem e obstinação dos galgos; e um cruzamento com um galgo deu a toda uma família de cães pastores a tendência para caçar lebres. Estes instintos domésticos, quando testados desta maneira por meio do cruzamento, assemelham-se a instintos naturais, que de uma maneira análoga se misturam curiosamente e durante muito tempo exibem vestígios dos instintos de um ou outro progenitor: por exemplo, Le Roy descreve um cão cujo bisavô era um lobo, e este cão mostrava um vestígio da sua ascendência selvagem de uma maneira apenas, não se dirigindo ao dono em linha recta quando chamado.

Fala-se por vezes nos instintos domésticos como acções que se tornaram hereditárias unicamente pelo hábito prolongado e compulsório, mas creio que isto não é verdade. Ninguém se lembraria alguma vez de ensinar um pombo-cambalhota a dar cambalhotas e provavelmente nem sequer o conseguiria ensinar -, uma acção que, como presenciei, é realizada por aves jovens que nunca viram um pombo dar cambalhotas. Podemos acreditar que algum pombo mostrou uma ligeira tendência para este hábito estranho e que a selecção prolongada dos melhores indivíduos em gerações sucessivas tornou os pombos-cambalhota naquilo que são hoje; e perto de Glasgow há cambalhotas domésticos, como me informa o Sr.





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