A Origem das Espécies - Cap. 8: CAPÍTULO VII
INSTINTO Pág. 236 / 524

As mestras são tão completamente indefesas que quando Huber isolou 30 delas sem uma só escrava mas com muita da sua comida preferida e com as suas larvas e pupas para as estimular a trabalhar, nada fizeram; não conseguiam sequer alimentar-se a si próprias e muitas morreram de fome. Huber introduziu então uma única escrava (F. fusca) e esta começou de imediato a trabalhar, alimentou e salvou as sobreviventes; construiu algumas cavidades, cuidou das larvas e pôs tudo em ordem. O que pode ser mais extraordinário do que estes factos comprovados? Se não tivéssemos conhecimento de qualquer outra formiga escravista, seria inútil especular como se poderia ter aperfeiçoado um instinto tão maravilhoso.

Pierre Huber descobriu também que a Formica sanguínea é uma formiga escravista. Esta espécie encontra-se no Sul de Inglaterra e os seus hábitos foram observados pelo Sr. F. Smith, do Museu Britânico, a quem muito devo pela informação proporcionada acerca deste e de outros assuntos. Embora plenamente confiante nas afirmações de Huber e do Sr. Smith, procurei abordar o assunto com um estado de espírito céptico, visto que qualquer um pode muito bem ser perdoado por duvidar da verdade de um instinto tão extraordinário e odioso como o de fazer escravos. Portanto, apresentarei algo detalhadamente as observações que eu próprio fiz. Abri 14 ninhos de F. sanguínea e em todos descobri algumas escravas. Os machos e as fêmeas férteis da espécie escrava só são encontrados nas suas próprias comunidades e nunca foram observados nos ninhos da F. sanguínea. As escravas são pretas e não têm mais do que metade do tamanho das suas mestras vermelhas, pelo que o contraste na sua aparência é muito grande. Quando o ninho é ligeiramente





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