A Origem das Espécies - Cap. 11: CAPÍTULO X
SOBRE A SUCESSÃO GEOLÓGICA DOS SERES ORGÂNICOS Pág. 343 / 524

Quando descobri em La Plata o dente de um cavalo incrustado nos vestígios de mastodontes, megatérios, toxodontes e outros monstros extintos, que coexistiram todos com moluscos que ainda viviam num período geológico bastante tardio, fiquei atónito; vendo que o cavalo, desde a sua introdução na América do Sul pelos espanhóis, se tornou selvagem em toda a região e aumentou numericamente a um ritmo inigualado, perguntei-me o que poderia tão recentemente ter exterminado o equídeo antecessor sob condições de vida aparentemente tão favoráveis. Mas quão completamente infundado era o meu assombro! O Professor Owen cedo percebeu que o dente, embora tão semelhante ao do cavalo existente, pertencia a uma espécie extinta. Fosse este cavalo ainda vivo, embora algo raro, nenhum naturalista ficaria minimamente surpreendido perante a sua raridade; pois a raridade é atributo de um vasto número de espécies de todas as classes, em todas as regiões. Se nos perguntamos por que razão esta ou aquela espécie é rara, respondemos que há algo desfavorável nas suas condições de vida; mas o que esse algo é, dificilmente saberemos. Supondo que o cavalo fóssil existia ainda como espécie rara, poderíamos estar certos, por analogia com todos os outros mamíferos, mesmo no caso do elefante, de que é um procriador lento, e pela história da naturalização do cavalo doméstico na América do Sul, que sob condições mais favoráveis teria em pouquíssimos anos povoado todo o continente. Mas não poderíamos saber quais foram as condições desfavoráveis que impediram o seu crescimento, fosse uma ou muitas contingências, em que período da vida do cavalo e até que ponto agiram separadamente. Se as condições continuassem, por muito lentamente, a tornar-se cada vez menos favoráveis,




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