A Origem das Espécies - Cap. 14: CAPÍTULO XIII
AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGÂNICOS. MORFOLOGIA. EMBRIOLOGIA. ÓRGÂOS RUDIMENTARES. Pág. 448 / 524

Richard viu sagazmente, como no-lo diz jussieu, que este género devia ainda estar preservado entre as Malpighiáceas. Este caso parece-me ilustrar bem o espírito com que as nossas classificações são por vezes necessariamente estabelecidas.

Na prática, quando os naturalistas trabalham não se preocupam com o valor fisiológico dos caracteres que usam para definir um grupo ou para atribuir um lugar qualquer a uma espécie particular. Se encontram um carácter quase uniforme e comum a um grande número de formas, não sendo comum a outras, usam-no como um carácter de grande valor; se é comum a um número menor, usam-no como um carácter de valor subordinado. A verdade deste princípio foi grosso modo reconhecida por alguns naturalistas; e por nenhum mais claramente do que por aquele excelente botânico, Aug. St. Hillaire. Se constatamos sempre a correlação entre certos caracteres, embora não se consiga descobrir entre eles qualquer vínculo visível, atribui-se-lhes um valor especial. Dado que na maioria dos grupos de animais se observa a quase uniformidade dos órgãos importantes, como os que servem para bombear o sangue, ou para o arterializar, ou os que servem para propagar a variedade, estes órgãos são considerados de elevada utilidade para a classificação; mas em alguns grupos de animais observa-se que todos os órgãos vitais mais importantes oferecem caracteres de valor completamente subordinado.

Podemos ver por que razão os caracteres derivados do embrião teriam importância igual à dos caracteres derivados do adulto, pois as nossas classificações evidentemente incluem todas as idades de cada espécie. Mas não é de modo algum óbvio, segundo a perspectiva comum, por que razão a estrutura do embrião seria mais importante para este propósito que a do adulto, que desempenha na integralidade o seu papel na economia da natureza.





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