A Origem das Espécies - Cap. 14: CAPÍTULO XIII
AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGÂNICOS. MORFOLOGIA. EMBRIOLOGIA. ÓRGÂOS RUDIMENTARES. Pág. 455 / 524

Inclui monstros; inclui variedades, não só porque se assemelham intimamente à forma antecessora, mas porque descendem dela. Quem crê que a prímula descende da primavera-dos-jardins, ou inversamente, classifica-as conjuntamente como uma só espécie, dando-lhes uma só definição. Mal se soube que três formas orquidáceas (Monochanthus, Myanthus, e Catasetum), anteriormente classificadas como três géneros distintos, por vezes se produziam na mesma espiga, foram imediatamente incluídas numa só espécie. Mas pode-se perguntar o que deveríamos fazer se se pudesse provar que uma espécie de canguru fora produzida por meio de um longo percurso de modificações, a partir de um urso? Deveríamos classificar esta única espécie juntamente com os ursos? E o que faríamos com as outras espécies? A suposição é evidentemente absurda; e poderia responder com o argumentum ad hominem, perguntando o que se deveria fazer se se observasse um canguru perfeito sair do ventre de uma ursa? De acordo com toda a analogia, seria classificado juntamente com os ursos; mas então seguramente que todas as outras espécies da família dos cangurus teriam de ser classificadas sob o género dos Ursídeos. Todo o exemplo é absurdo; pois onde a ascendência próxima foi comum, haverá certamente semelhança íntima ou afinidade.

Como se usou universalmente a ascendência para a classificação conjunta dos indivíduos da mesma espécie, embora os machos e as fêmeas e as larvas sejam por vezes muitíssimo diferentes; e como foi usada na classificação de variedades que sofreram uma certa quantidade de modificação, por vezes considerável, não poderá este mesmo elemento da ascendência ter sido inconscientemente usado no agrupamento de espécies sob géneros, e de géneros





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