A Origem das Espécies - Cap. 14: CAPÍTULO XIII
AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGÂNICOS. MORFOLOGIA. EMBRIOLOGIA. ÓRGÂOS RUDIMENTARES. Pág. 464 / 524

nunca conseguiremos fazer uma colecção tão perfeita: não obstante, em certas classes, movemo-nos nesta direcção; e Milne Edwards insistiu recentemente, num ensaio competente, na elevada importância de observar os tipos, possamos ou não separar e definir os grupos a que tais tipos pertencem.

Finalmente, vimos que a selecção natural, que resulta da luta pela existência e quase inevitavelmente causa a extinção e a divergência de carácter nos muitos descendentes de uma espécie antecessora dominante, explica aquela grande característica universal nas afinidades de todos os seres orgânicos, nomeadamente, a sua subordinação de grupo a grupo. Usamos o elemento da ascendência na classificação de indivíduos de ambos os sexos e de todas as idades, ainda que tenham poucos caracteres em comum, sob uma espécie; usamos a ascendência na classificação de variedades reconhecidas, por muito que possam diferir da sua antecessora; e creio que este elemento da ascendência é o vínculo conectivo escondido que os naturalistas procuraram sob o termo «sistema natural». Segundo esta ideia de o sistema natural ser, na medida em que foi aperfeiçoado, genealógico na sua ordenação, exprimindo-se os graus de diferença entre os descendentes de um antecessor comum em termos de géneros, famílias, ordens, etc., podemos compreender as regras que somos obrigados a seguir na nossa classificação. Podemos compreender por que razão valorizamos certas semelhanças muito mais do que outras; porque nos é permitido usar órgãos rudimentares e inúteis, ou outros de importância fisiológica menor; porque, ao comparar um grupo com outro grupo distinto, rejeitamos sumariamente os caracteres adaptativos ou analógicos e, no entanto, usamos estes mesmos caracteres nos limites do mesmo grupo.





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