A Origem das Espécies - Cap. 14: CAPÍTULO XIII
AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGÂNICOS. MORFOLOGIA. EMBRIOLOGIA. ÓRGÂOS RUDIMENTARES. Pág. 469 / 524

modificadas; podemos portanto acreditar prontamente que o progenitor desconhecido dos vertebrados tinha muitas vértebras; o progenitor desconhecido dos articulados, muitos segmentos; e o progenitor desconhecido das plantas floríferas, muitas volutas de folhas em espiral. Vimos atrás que as partes muitas vezes repetidas são eminentemente susceptíveis a variar em número e estrutura; consequentemente, é inteiramente provável que a selecção natural, no decorrer de uma modificação a longo prazo, se apoderasse de certo número dos elementos primordialmente similares, muitas vezes repetidos, adaptando-os aos propósitos mais diversos. E como a quantidade total de modificação se terá efectuado por ligeiras etapas sucessivas, não temos de nos admirar perante a descoberta em tais partes ou órgãos de um certo grau de semelhança fundamental, preservado pelo princípio robusto da hereditariedade.

Na grande classe dos moluscos, embora possamos tornar homólogas as partes de uma espécie e as de outra espécie distinta, não podemos indicar senão poucas homologias seriais; isto é, raramente podemos afirmar que uma parte ou órgão é homóloga a outra no mesmo indivíduo. E podemos compreender este facto; pois nos moluscos, mesmo nos membros mais inferiores da classe, não encontramos tanta repetição indefinida de qualquer parte como encontramos nas outras grandes classes dos reinos animal e vegetal.

Os naturalistas falam frequentemente no crânio como se formado por vértebras metamorfoseadas: as mandíbulas dos caranguejos como pernas metamorfoseadas; os estames e pistilos das flores como folhas metamorfoseadas; mas, nestes casos, seria provavelmente mais correcto, como observou o Professor Huxley, falar no crânio e nas vértebras, nas mandíbulas e pernas, etc.





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