Embora não duvide de que alguns animais domésticos variam menos do que outros, a raridade ou ausência de linhagens distintas no gato, burro, pavão, ganso, etc., podem ser atribuídas principalmente ao facto de a selecção não ter intervindo: nos gatos pela dificuldade de os emparelhar; nos burros por serem mantidos em escasso número por pessoas pobres e pouca atenção se prestar à sua reprodução; nos pavões por ser difícil criá-los e por não serem mantidos em castas numerosas; nos gansos, por serem valiosos apenas para duas finalidades, alimento e penas, e mais especialmente porque a exibição de linhagens distintas não suscitou qualquer prazer.
Resumindo, no que diz respeito à origem das nossas variedades domésticas de animais e plantas, creio que as condições de vida, pela sua acção sobre o sistema reprodutivo, são nesta altura da maior importância como causa da variabilidade. Não creio que a variabilidade seja uma contingência inerente e necessária, em todas as circunstâncias, para todos os seres orgânicos, como pensaram alguns autores. Os efeitos da variabilidade são modificados por diversos graus de hereditariedade e reversão. A variabilidade é regida por muitas leis desconhecidas, mais especialmente pela lei da correlação de crescimento. Algo se pode atribuir à acção directa das condições de vida. Pode-se atribuir algo ao uso e ao desuso. O resultado final torna-se assim infinitamente complexo. Em alguns casos, não duvido de que o entrecruzamento de espécies aboriginalmente distintas desempenhou um papel importante na origem das nossas produções domésticas. Uma vez estabelecidas diversas linhagens domésticas em qualquer região, o seu entrecruzamento ocasional, auxiliado pela selecção, favoreceu sem dúvida a formação de novas sub-linhagens; mas a importância do cruzamento de variedades, segundo creio, foi muitíssimo exagerada, no que se refere aos animais e às plantas que se propagam por semente.