A Origem das Espécies - Cap. 14: CAPÍTULO XIII
AFINIDADES MÚTUAS DOS SERES ORGÂNICOS. MORFOLOGIA. EMBRIOLOGIA. ÓRGÂOS RUDIMENTARES. Pág. 484 / 524

O pistilo consiste num estigma suportado pelo estilete; mas em algumas Compósitas, os flósculos masculinos, que evidentemente não podem ser fecundados, têm um pistilo, que se encontra num estado rudimentar, pois não é coroado por um estigma; mas o estilete permanece bem desenvolvido, e está revestido de pêlos como nas outras compósitas, para a finalidade de varrer o pólen das anteras circundantes. Mais uma vez, um órgão pode tornar-se rudimentar para a sua finalidade apropriada e ser usado para um objectivo distinto: em certos peixes, a bexiga-natatória parece rudimentar para a sua função apropriada de proporcionar a capacidade de flutuar, mas converteu-se num órgão respiratório ou pulmão emergente. Poder-se-ia apresentar outros exemplos similares.

Os órgãos rudimentares nos indivíduos da mesma espécie são muito susceptíveis a variar em grau de desenvolvimento e noutros aspectos. Além disso, nas espécies intimamente próximas, o grau de rudimentaridade a que chega o mesmo órgão por vezes difere muito. Este último facto é bem exemplificado no estado das asas das mariposas fêmeas em certos grupos. Os órgãos rudimentares podem ser completamente abortados; e isto sugere que não encontramos num animal ou planta qualquer vestígio de um órgão, que por analogia seríamos levados a esperar encontrar e que se encontra ocasionalmente em indivíduos monstruosos da espécie. Assim, na erva-bezerra (antirrhinum) geralmente não encontramos o rudimento de um quinto estame; mas este pode por vezes ser observado. Ao delinear as homologias da mesma parte em diferentes membros de uma classe, nada é mais comum, ou mais necessário, do que o uso e descoberta de rudimentos. Isto é bem visível nos desenhos apresentados por Owen dos ossos da perna do cavalo, boi e rinoceronte.





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