A Origem das Espécies - Cap. 3: CAPÍTULO II
VARIAÇÃO EM ESTADO DE NATUREZA Pág. 55 / 524

Muitos dos casos de variedades fortemente marcadas ou espécies duvidosas bem merecem consideração; pois, na tentativa de determinar qual a sua categoria, tem-se aplicado diversas linhas de argumentação interessantes a partir da distribuição geográfica, variação analógica, hibridismo, etc. Vou dar aqui um único exemplo, célebre, da prímula e da primavera-das-jardins, ou Primula veris e Primula elatior. Estas plantas diferem consideravelmente em aparência; têm um sabor diferente e emitem um odor diferente; dão flor em períodos ligeiramente diferentes; crescem em estações um tanto diferentes; aparecem em altitudes diferentes nas montanhas; têm distribuições geográficas diferentes; e, por fim, de acordo com numerosas experiências realizadas ao longo de muitos anos pelo meticulosíssimo observador que é Gärtner, só com muita dificuldade podem ser cruzadas. Dificilmente se poderia esperar melhores indícios de que as duas formas são especificamente distintas. Por outro lado, estão unidas por vários elos intermédios e é muito discutível tratar-se ou não de híbridos; há, além disto, segundo me parece, uma quantidade esmagadora de provas empíricas que mostram que estes elos descendem de antecessores comuns e, consequentemente, têm de ser classificados como variedades.

A investigação meticulosa, na maioria dos casos, fará que os naturalistas cheguem a acordo sobre o modo de classificar as formas duvidosas. Porém, há que admitir, é nas regiões mais conhecidas que encontramos o maior número de formas de valor duvidoso. Impressionou-me o facto de, no caso de qualquer animal ou planta em estado de natureza serem muito úteis ao homem ou por alguma razão lhe prenderem a atenção, quase universalmente se encontrar registo de variações desse animal ou planta.





Os capítulos deste livro