A Origem das Espécies - Cap. 4: CAPÍTULO III
LUTA PELA EXISTÊNCIA Pág. 76 / 524

obviamente o limite máximo de crescimento numérico para cada uma; mas muitas vezes não é a obtenção de alimento, mas sim o servir de presa a outros animais que determina o número médio de uma espécie. Assim, parece não haver muitas dúvidas de que a quantidade de perdizes, lagópodes e lebres em qualquer grande herdade depende principalmente da destruição de parasitas. Se nem uma única peça de caça fosse abatida nos próximos 20 anos em Inglaterra, e se, ao mesmo tempo, nenhum parasita fosse destruído, haveria, com toda a probabilidade, menos animais de caça do que há hoje, embora anualmente se mate centenas de milhares de animais de caça. Por outro lado, em alguns casos, como sucede com o elefante e o rinoceronte, nenhum é destruído por predadores: mesmo o tigre indiano quase nunca se atreve a atacar um jovem elefante protegido pela sua mãe.

O clima desempenha um papel importante na determinação do número médio de uma espécie e creio que os períodos sazonais de frio extremo e seca são as mais eficazes de todas as restrições. Calculei que o Inverno de 1854-1855 tenha destruído quatro quintos das aves no meu próprio terreno; e esta é uma destruição tremenda, quando relembramos que dez por cento representa para o homem uma mortalidade, no caso das epidemias, extraordinariamente intensa. A acção do clima parece à primeira vista completamente independente da luta pela existência; mas, na medida em que o clima actua sobretudo na redução dos alimentos, provoca o combate mais severo entre indivíduos, pertencentes à mesma espécie ou a espécies distintas, que subsistem com base no mesmo tipo de alimentação. Mesmo quando o clima, por exemplo, o frio extremo, actua directamente, serão os indivíduos menos vigorosos, ou os que obtiveram menos alimentos durante o avanço do Inverno, aqueles que sofrerão mais.





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