A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 94 / 524

de pele suave sofrem muito mais com um escaravelho, o gorgulho, do que os frutos lanosos; que as ameixas púrpuras sofrem muito mais com uma determinada doença do que as ameixas amarelas; ao passo que outra doença ataca os pêssegos de polpa amarela muito mais do que os que têm polpa de outra cor. Se, com todo o auxílio da arte, estas diferenças ligeiras fazem uma grande diferença no cultivo das diferentes variedades, sem dúvida que em estado de natureza, onde as árvores teriam de lutar com outras árvores e uma multidão de inimigos, tais diferenças determinariam efectivamente que variedade de fruto, suave ou lanoso, de polpa amarela ou púrpura, vingaria.

Olhando para muitos pequenos aspectos diferentes entre as espécies, que, tanto quanto a nossa ignorância nos permite avaliar, parecem bastante insignificantes, não podemos esquecer que o clima, a alimentação, etc., produzem provavelmente algum efeito ligeiro e directo. É contudo muito mais urgente não esquecer que há diversas leis da correlação de crescimento desconhecidas, as quais, quando uma parte da organização se modifica através da variação e as modificações são acumuladas por selecção natural para o bem do ser, causarão outras modificações, muitas vezes da mais inesperada natureza.

Tal como vemos que as variações que sob domesticação surgem em qualquer período particular da vida tendem a reaparecer na prole, no mesmo período - por exemplo, nas sementes das muitas variedades das nossas plantas culinárias e agrícolas; nas fases de lagarta e casulo das variedades do bicho-da-seda; nos ovos das aves domésticas e na cor da penugem dos seus frangos; nos cornos dos nossos carneiros e gado bovino quando estão quase a atingir a maturidade -, assim, em estado de natureza, a selecção natural poderá agir- sobre os seres orgânicos em qualquer idade e modificá-los, pela acumulação de variações benéficas nessa idade e pela hereditariedade numa idade correspondente.





Os capítulos deste livro