Apocalipse - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 58 / 180

Mas não João de Patmos. E por isso, desde o século n até ao arcediago Charles os críticos e os editores cristãos tentaram fazer esse silêncio por conta dele. Sem êxito: porque o tipo de mente que venera o poder divino tem sempre a tendência para pensar por símbolos. Pensar directamente por símbolos - como o jogo de xadrez faz com o rei, a rainha e os peões - é característica desses homens que vêem o poder como desideratum supremo - e são a maioria. O mais baixo substrato do povo ainda venera o poder, ainda pensa rudimentarmente por símbolos, ainda se apega ao Apocalipse mostrando-se indiferente de todo ao Sermão da Montanha. Ao que parece, porém, o mais alto dos altos estratos da Igreja e do Estado ainda presta o seu culto - por natureza, de facto - em termos de poder.

Contudo, os críticos ortodoxos como o arcediago Charles querem ter honra e proveito ao mesmo tempo. Querem ter o velho sentimento de poder pagão cio Apocalipse, embora passem boa parte do tempo a negar que assim seja. Se forem obrigados a admitir um elemento pagão, arregaçam as saias da batina clerical e desatam a correr. E para eles o Apocalipse é, ao mesmo tempo, uma verdadeira festa pagã. Apenas sucede que se vêem obrigados a tudo isto engolir com um piedoso ar.





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