Tinham conversado um par de minutos, no máximo. O episódio só podia ter um significado. Fora engendrado como meio de dar a Winston o endereço de O'Brien. Isto era necessário porque, exceto pela pergunta direta, não era nunca possível descobrir onde morava uma pessoa. Não havia guias nem indicadores de espécie alguma. "Se me queres ver, podes me encontrar aqui," era o sentido da mensagem de O'Brien. Talvez até houvesse um recado oculto no Dicionário. Fosse como fosse, uma coisa era certa. A conspiração com que sonhava existia, e ele alcançara a sua periferia.
Sabia que mais cedo ou mais tarde obedeceria ao chamado de O'Brien. Talvez amanhã, talvez após longa espera... não tinha certeza. O que estava acontecendo era apenas o desenvolvimento de um processo iniciado muitos anos antes. O primeiro passo fora um pensamento secreto, involuntário, o segundo fora o início do diário. Passara das ideias às palavras, e agora das palavras aos atos. O último passo era algo que teria lugar no Ministério do Amor. Ele o aceitara. O fim estava contido no começo. Mas era assustador; ou mais exatamente, era um prenúncio de morte, como se estivesse menos vivo. Até mesmo falando com O'Brien, um tiritar de frio se apossara do corpo de Winston, quando o significado das palavras calou. Tivera a sensação de pisar na terra húmida de um túmulo, e não era consolo algum saber que o túmulo lá estava, à sua espera.