Madame Bovary - Cap. 15: VII Pág. 146 / 382

E sentou-o em cima da mesa, apoiando-lhe as costas contra a parede. A Sr." Bovary começou logo a tirar-lhe a gravata. Havia um nó nos cordões da camisa; levou uns minutos a remexer com os seus dedos leves no pescoço do rapaz; seguidamente pôs vinagre no seu lenço de cambraia e molhou-lhe as fontes com pequenos toques, soprando-lhes em cima delicadamente.

O carroceiro voltou a si; mas a síncope de Justin ainda durava e as pupilas desapareciam-lhe na esclerótica descorada, como flores azuis dentro de leite.

- Tem de se lhe esconder isso - disse Charles.

A Sr." Bovary pegou na bacia. Para a meter debaixo da mesa, com o movimento que fez ao inclinar-se, o vestido (era um vestido de Verão com quatro folhos, amarelo, de cintura descaída e largo de saia) abriu-se em volta dela, sobre o ladrilho da sala; e, à medida que Emma, abaixada, oscilava um pouto com o afastamento dos braços, o tecido tufado enrugava-se de um ou de outro lado, conforme as inflexões do corpo. Seguidamente foi buscar uma garrafa de água e estava a derreter pedaços de açúcar quando entrou o farmacêutico. A criada fora chamá-lo naquela balbúrdia; ele, encontrando o seu aluno com os olhos abertos, respirou fundo. Depois, girando-lhe em torno, olhava-o de alto a baixo.

- Parvo! - dizia ele.- É mesmo parvinho! Parvo com todas as letras!

Olhem que grande coisa, afinal, uma flebotomia! E isto um valentão que não tem medo de nada! Parece um esquilo, o maroto que aí se vê, capaz de trepar a alturas vertiginosas para sacudir as nozes. Vá lá, fala, anda, gaba-te! Eis uma excelente inclinação para exerceres mais tarde a farmácia; é que podes ser chamado, em circunstâncias graves, diante dos tribunais, para esclarecer a consciência dos magistrados; e terás mesmo de manter o sangue-frio, raciocinar, mostrar que és homem, ou então passar por um imbecil!

Justin não respondia.





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