O boticário continuava:
- Quem te mandou cá vir? Estás sempre a importunar estes senhores!
Ainda por cima, à quarta-feira, quando a tua presença me é mais necessária. Tenho lá agora vinte pessoas para atender. Deixei tudo por tua causa. Vai, despacha-te! Corre! Espera lá por mim e toma conta dos frascos!
Quando Justin, depois de ajeitar a roupa, se foi embora, conversaram um pouco sobre desmaios. A Sr. Bovary nunca tivera nenhum.
- É extraordinário numa mulher! - disse Boulanger. - Há até pessoas bastante sujeitas a desmaiar. Já vi, por exemplo, num duelo, uma das testemunhas perder os sentidos só por causa do ruído de carregar as pistolas.
- A mim - disse o boticário -, ver o sangue dos outros não me causa impressão; mas só a ideia do meu sangue a correr seria o suficiente para me provocar desfalecimentos, se me pusesse a pensar muito nisso.
Entretanto, o Sr. Boulanger mandou embora o criado, dizendo que acalmasse o espírito, visto que já lhe fora feita a vontade.
- O que me proporcionou a vantagem de poder conhecê-la - acrestentou.
E fixava Emma enquanto dizia esta frase.
Depois colocou três francos em cima da mesa, despediu-se com indiderença e saiu.
Dali a pouco encontrava-se já do outro lado do rio (era esse o caminho para regressar a La Huchette); Emma avistou-o na pradaria, caminhando debaixo dos choupos, demorando o passo, de vez em quando, como quem reflecte.
«Que simpática que ela é!», ia ele pensando; «é mesmo simpática, aquela mulher do médico! Lindos dentes, olhos negros, pezinhos delicados e o aspecto distinto duma parisiense. Donde diabo terá ela vindo? Onde a terá
desencantado aquele grosseirão?»
Rodolphe Boulanger tinha trinta e quatro anos; possuía um temperamento agressivo e uma inteligência perspicaz, além de ter conhecido muitas mulheres, no que se tornara um especialista.