Madame Bovary - Cap. 20: XII Pág. 215 / 382

- A que mundo pertence a senhora? - retorquiu a nora, com um olhar de tal modo impertinente que a mãe Bovary lhe perguntou se ela, com semelhante atitude, não estaria defendendo a sua própria causa.

- Saia! - gritou Emma, levantando-se de um pulo.

- Emma!... Mamã!... - exclamava Charles, para as reconciliar.

Mas ambas tinham desaparecido, levadas pela exasperação. Emma batia o pé, ao mesmo tempo que repetia: - Oh, que modos! Que grosseria!

Ele correu para a mãe; ela tinha perdido as estribeiras e balbuciava:

- É uma insolente!, uma estouvada!, ou coisa pior ainda!

E queria ir-se embora imediatamente se a outra não lhe viesse pedir desculpa. Charles voltou então para o pé da mulher e suplicou-lhe que cedesse; pôs-se de joelhos e ela acabou por corresponder:

- Está bem! Vou.

Efectivamente, estendeu a mão à sogra com uma dignidade de marquesa, dizendo-lhe:

- Desculpe, minha senhora.

Depois, subindo ao quarto, Emma atirou-se de bruços para cima da cama e chorou como uma criança, com a cabeça enterrada no travesseiro.

Tinham combinado, ela e Rodolphe, que, no caso de acontecer qualquer coisa de extraordinário, ela prenderia à persiana um bocado de papel branco, para que, no caso de ele se encontrar em Yonville, acorrer logo ao beco, atrás da casa. Emma fez o sinal, e já havia três quartos de hora que esperava quando, subitamente, avistou Rodolphe à esquina do mercado. Teve a tentação de abrir a janela e de o chamar, mas ele já desaparecera. Caiu de novo no seu desespero.

Logo de seguida, no entanto, pareceu-lhe ouvir passos na calçada. Era ele, com certeza; ela desceu a escada e atravessou o pátio. Ele lá estava, do lado de fora. Emma atirou-se-lhe nos braços.

- Vê lá, tem cuidado! - disse ele.





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