- Estava a ver que nunca mais cá chegava! Tanta gente!... E acrescentou:
- Vê se adivinhas quem encontrei lá em cima? O Sr. Léon!
- Léon?
- Ele mesmo! Vem aqui cumprimentar-te.
E, ao acabar de dizer estas palavras, entrou no camarote o antigo escriturário de Yonville.
Estendeu a mão com uma desenvoltura de fidalgo: e a Sr. Bovary adiantou maquinalmente a sua, obedecendo certamente à atracção duma vontade mais forte. Não a voltara a apertar depois daquela noite de Primavera em que chovia sobre as folhas verdes, quando se tinham despedido, de pé, junto da janela. Mas, recordando-se rapidamente das conveniências da situação, fez um esforço para sacudir aquele torpor de recordações e pôs-se a balbuciar frases apressadas.
- Oh!, como está? Com que então, aqui!
- Silêncio! - gritou uma voz da plateia, porque começava o terceiro acto.
- Está então em Ruão?
- Estou.
- Desde quando?
- Rua! Rua!
Voltavam-se para eles; calaram-se.
Mas, a partir daquele momento, ela não ouviu mais nada; o coro dos convidados, a cena de Ashton e o seu escudeiro, o grande dueto em ré maior, tudo passou por ela à distância, como se os instrumentos se houvessem tornado menos sonoros e as personagens mais afastadas; lembrava-se das partidas de cartas em casa do farmacêutico e do passeio a casa da ama, das leituras debaixo do caramanchão, das conversas a sós ao canto da lareira, de todo aquele pobre amor tão calmo e tão prolongado, tão discreto, tão terno, que ela, entretanto, esquecera.