Por que ressurgia então agora? Que combinação de aventuras o colocava de novo na sua vida? Léon colocara-se atrás dela, com o ombro encostado ao tabique; e, de vez em quando, Emma sentia-se estremecer com o sopro tépido das narinas dele, que lhe descia sobre os cabelos.
- Diverte-se com isto?- perguntou ele, inclinando-se tanto que a ponta do bigode lhe aflorou a face.
- Oh! não, meu Deus! Nem por isso.
Então ele propôs que saíssem do teatro e fossem a qualquer lado tomar uns gelados.
- Ah!, ainda não! Fiquemos! - disse Bovary. - Ela está com os cabelos soltos: isto promete ser trágico.
Mas a cena da loucura não interessava nada a Emma e a actuação da cantora parecia-lhe exagerada.
- Ela grita de mais - disse Emma, voltando-se para Charles, que escutava.
- Sim... talvez... um pouco - replicou ele, indeciso entre o privilégio de desfrutar aquele prazer e o respeito que tinha pelas opiniões da mulher.
Depois Léon disse, suspirando: - Está um calor...
- Insuportável! É verdade.
- Estás mal disposta? - perguntou Bovary.
- Estou, falta-me o ar; vamos embora.
Léon colocou-lhe delicadamente sobre os ombros o grande xaile de renda e foram os três sentar-se ao ar livre, no porto, diante das montras dum café.
Primeiro falou-se da doença dela, ainda que Emma, de vez em quando, interrompesse Charles, com receio, dizia ela, de enfadar o Sr. Léon; e este contou-lhes que viera a Ruão passar dois anos num bom cartório, para adquirir prática nas causas, que eram, na Normandia, muito diferentes daquelas que se tratavam em Paris. Depois pediu informações de Berthe, da família Homais, da Tia Lefrançois; e, como na presença do marido nada mais tivessem a dizer um ao outro, depressa se esgotou o assunto da conversação.